Agricultura Urbana, Hortas Urbanas: Conceitos com Futuro
Na verdade o desenvolvimento das cidades e a produção de alimentos sempre estiveram associados, mas as nossas cidades estão cada vez maiores e têm mais população, números que vão continuar a aumentar consideravelmente.
A agricultura urbana é hoje um tema presente nas agendas politicas mas também com mais adeptos. Outro conceito como o das hortas urbanas, tornou-se um tema querido dos cidadãos das grandes urbes, as pessoas têm vontade de jardinar, de cultivar e ter o alimento em proximidade torna-se uma urgência no século XXI.
Nas primeiras cidades industriais como Londres a agricultura urbana tornou-se rapidamente uma ferramenta de reforma social. Hoje em dia está também relacionada com a ideia de auto-suficiência.
Os mais cépticos poderão falar em desvantagens ou pensar tal como Le Corbusier, a última coisa que um trabalhador da cidade vai querer ao fim do dia é jardinar para cultivar alguns tomates, como o próprio disse ‘crescer o alimento é um trabalho, não um prazer’.
Mas então o que torna o conceito de agricultura urbana tão presente nos nossos dias, e porque temos cada vez mais hortas urbanas?
A própria FAO refere as várias vantagens deste tipo de agricultura:
Os legumes têm um ciclo de produção curto; alguns podem ser colhidos em até 60 dias após o plantio, sendo assim adequados para a agricultura urbana.
As parcelas de jardim podem ser até 15 vezes mais produtivas do que as propriedades rurais. Uma área de apenas um metro quadrado pode fornecer 20 kg de comida por ano.
Os horticultores urbanos gastam menos em transporte, embalagem e armazenamento, e podem vender directamente ao consumidor através de barracas de comida de rua e barracas de mercado, reduzindo a necessidade de intermediários.
A empresa Gotham greens vende a salada que produz nos rooftops de Nova Iorque e Chicago em estufas em hidroponia. Os produtos são enviados para lojas e restaurantes nas proximidades poucas horas depois de serem colhidos. Isto traduz-se num produto mais fresco, menos deteriorado e requer menos emissões em transporte do que uma operação rural semelhante poderia exigir – além disso, para o cliente, traz a sensação calorosa de participar numa rede local.
Estudos têm vindo a ser desenvolvidos sobre o impacto da agricultura urbana que provam que apesar da necessidade de água onde há uma alta procura, e energia gasta, por exemplo, para iluminar e fazer o controlo de temperatura em produções no interior, a agricultura urbana tem variados benefícios.
Não permite alimentar a população mundial e não substitui a agricultura tradicional mas tem muito potencial, tendo benefícios como poder vir a servir parte da população mundial, a redução do efeito de ilha de calor urbana, evitar o escoamento de águas pluviais, fixação de nitrogénio, controlo de pragas e economizar energia, tendo também comprovados benefícios sociais.
Em Paris, em 2016 criou-se o movimento Parisculteurs, uma campanha para cobrir 100 hectares de telhados e muros em Paris com vegetação até 2020. A cidade já aprovou 75 projectos, estimados para produzir mais de 500 toneladas de vegetação.
Em Paris a agricultura urbana é vista como uma verdadeira oportunidade para a cidade. Contribui para a biodiversidade e para a luta contra as alterações climáticas. E permite também a criação de emprego (a campanha Parisculteurs permitiu criar já 120 postos de trabalho a tempo inteiro).
Em Portugal multiplicam-se as hortas urbanas, um outro conceito focado em benefícios sociais e de recreio das populações, cujas inscrições têm listas de espera cada vez maiores.
Um dos exemplos é o parque hortícola dos Olivais, com 31 talhões de cultivo que têm entre os 80 e os 140 metros quadrados, tendo ‘hortas sociais’ e ‘hortas de recreio’ que têm um valor de 1,6€, tendo os agricultores direito a abrigos de uso colectivo para guardar o material e ainda o acesso a água para rega.
O programa terras de Cascais é outro exemplo que pretende dar nova vida aos espaços naturais e promover a agricultura urbana biológica. Esta é uma óptima forma de coesão social sendo que atrai pessoas de diferentes idades e classes sociais e permite também voltar à terra e a conceitos muito básicos que vamos perdendo e que nos são indispensáveis, sendo ideal para dar a conhecer às crianças por exemplo, a agricultura, o que nas cidades se torna por vezes difícil.
E quanto à questão da poluição atmosférica nas cidades contaminar o que é produzindo o LNEC e o ISA fizeram em 2016 um estudo que verificou em hortas urbanas de Lisboa que o solo e a água tinham valores acima dos recomendados mas os produtos não estavam contaminados.
Sente-se com coragem para cultivar os seus legumes?
Com alguns vasos na varanda já se conseguem resultados, pode começar por aí.
Amália Souto de Miranda
Arquitecta Paisagista